05 abril, 2009

Memorial de Leitura e Escrita



Recordo-me que meu processo de leitura começou antes de eu ingressar na escola, quando tinha por volta de quatro anos de idade. Meu pai era mecânico e minha mãe na época dona do lar. Todos os dias da acordava cedo, meu pai ia trabalhar e a minha cuidar das atividades do lar e eu sempre pegava papel dizendo que era para escrever. Aquele ambiente me envolvia e ali começava meu processo de leitura, a leitura do mundo, construída a partir das conversas das pessoas que ali estavam, contando histórias. Eu aprendia dentro desse contexto além das historinhas fantásticas, todo o processo desde a lavagem de prato até a preparação dos alimentos. Por isso concordo com Paulo Freire quando afirma que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.


Meu processo de leitura sempre foi movido por um sentimento de revolta, que me impulsionava a buscar uma mudança de vida.

Sempre fazia questionamentos muito pertinentes, como por exemplo: Por que naquele meu mundo apenas a minha mãe e o meu pai sabia ler e escrever? Por que meus pais eram alfabetizados? Meus pais me respondiam que quando eu tivesse maior saberia ler também. Isso me deixava atormentada.

Queria compreender como era a cidade, o que tinha nela entre outras coisas. Eles sempre respondiam meus questionamentos. Com esse hábito de conversar com meus pais fiquei impulsiva. Eu queria aprender a ler, para ensinar aos outros, já tinha incutido na minha mente o poder de transformação pela leitura.

Para minha felicidade meus pais resolveram me colocar na escola para que eu pudesse interagir com outras crianças. Eu passava a maior parte do dia lendo e mostrando para minha mãe que estava aprendendo a decodificar aquelas letras.

O primeiro livro que ganhei foi de Literatura infantil, o coelhinho sabido, o qual li vagarosamente no mesmo dia, à noite, para todos sentados ao chão. Meu pai, minha mãe diziam que era linda a forma como eu lia, parecia que cantava e isso foi muito importante para o desenvolvimento da minha consciência fonológica e contribuiu para a aquisição de uma leitura fluente.

Após a leitura do livro citado acima, meu pai sempre que podia, comprava livrinhos de Literatura para eu ler. Lembro-me que lia várias vezes o mesmo livro para meu pai que acabava decorando algumas estrofes.

A cada dia aumentava a minha convicção de que a leitura não era coisa apenas para ricos, que eu era capaz de me transformar e mudar a forma como vivia por meio da leitura e do conhecimento Eu lia impulsionada por uma motivação intrínseca, que era o desejo de mudança, viajava nas poucas leituras que fazia, construía imagens e me transportava para o mundo descrito nos livros, por isso concordo com Barthes que fala da leitura como desejo e não como dever, o leitor como sujeito no processo, sendo”. O leitor como uma personagem.”
Da 2ª a 4ª série estudei com a mesma professora, da qual não gostaria de revelar o nome. Esta foi uma fase bem marcante no meu processo de escrita, pois já estava alfabetizada. Começava então os castigos para fazer com que a minha escrita saísse perfeita. Comecei a escrever e tinha o apoio da professora . Ela conseguiu seu objetivo, minha caligrafia ficou legível, bonita, pois eu imitava a sua letra. Fico feliz, pois hoje sou formada em
Letras e lembrando sempre das minhas professoras.
Tínhamos acesso a livros na escola e a professora nos incentivava a leitura. Não gostava muito de leitura não. Mas, com o passar dos tempos, e a necessidade da leitura ia aumentando passei a gostar da leitura.

Lembro-me de uma colega da 4ª série que tinha uma coleção de livros de Literatura Infantil e ficava exibindo-os na sala de aula. Eu ficava com um enorme desejo de ler os livros. Ela dizia que se eu fizesse a tarefa dela, ela me emprestaria os livros, mas me enganava sempre. Terminou o ano letivo e eu não cheguei a ler todos os livros. Com isso criei uma vontade pela leitura de Literaturas Infantis, e só passei a ler mais e mais na 8ª série por necessidade devido às provas serem baseadas nas literaturas. Líamos muito A Droga da Obediência, a marca de uma Lágrima e muitos outros

Por precisar entender o processo da leitura e escrita e no âmbito educacional, fiz graduação em Letras e especialização em Psicopedagogia e continuo acreditando no poder de transformação por meio da educação. Como não acreditar se sou um exemplo disso!
Assim sendo, as condições para leitura e escrita na escola são bem claras. Servi como aumento de conhecimento e inteligência.

2 comentários:

  1. Assim como vc acredito no poder de transformação das pessoas por meio da educação.A leitura nos transforma. Diante dessa crença ,estou sempre lendo e buscando meios que dispertem nos meus olunos o pazer de ler.

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  2. O meu memorial de leitura:
    http://fernandinhaepensamentos.blogspot.com/2011/06/memorial-de-leitura.html

    Grande abraço!

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