17 julho, 2009

PSICOPEDAGOGIA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES: ESTA É UMA QUESTÃO RELEVANTE? João Beauclair

Resumo

Este artigo busca abordar a seguinte questão: é importante na formação inicial e continuada de educadores, a inserção de tópicos de estudos vinculados a Psicopedagogia? A partir de movimentos de leitura e releitura sobre o tema, procuro articular alguns pontos de reflexão que nos possibilite vislumbrar, com alguma clareza, tal interrogação. Todos os que atuam em educação em nossa contemporaneidade, em algum momento já percebeu que novos desafios estão se configurando no cotidiano da escola, enquanto espaço privilegiado de construção de saberes. Na sociedade contemporânea, a aprendizagem – percebida como processo de a aquisição real de conhecimento-, além de ser essencial, é tarefa que faz emergir questões e sugere a construção permanente de novas posturas e de novos saberes, levando todos os que atuam em educação e a reverem conceitos já sedimentados e a ampliarem suas perspectivas teóricas e práticas. Como psicopedagogo, pesquisador sobre temas educacionais e educador levanto aqui alguns desses relevantes aspectos, com o intuito de contribuir, de algum modo, para o debate sobre a formação inicial e continuada de educadores.

Palavras-chave:

Formação de educadores, Psicopedagogia, Aprendizagem, Novos Paradigmas em Educação.

Psicopedagogia como campo de conhecimento humano

Enquanto campo multidisciplinar de conhecimento humano, a Psicopedagogia se propõem a investigar a aprendizagem, enfatizando seus processos, seus mecanismos e as possíveis dificuldades inerentes a este importante fazer humano. Diferentes contribuições, oriundas de também distintos campos do saber tem possibilitado, aos que se interessam pelo tema, a ampliação de compreensões sobre aspectos diferenciados envolvidos.

Os estudos no campo psicopedagógico centram seus objetivos à compreensão dos processos humanos vinculados a aquisição de conhecimento, considerando os padrões evolutivos considerados como normais e percebendo, ainda, as possíveis patologias, além das diferentes influências presentes na sociedade, na família, na cultura, nas instituições sócias e, óbvio, no espaçotempo da escola.

A Psicopedagogia, partindo de uma visão multidisciplinar, apropria-se de conhecimentos de outros campos do saber humano - Pedagogia, Psicologia, Psicanálise, Sociologia, Neuropsicologia, Antropologia, Lingüística, entre outros-, com a clara função de demonstrar que, no processo de construção do conhecimento, cada sujeito utiliza-se de modos próprios de pensar e agir, modos únicos de demonstrar as habilidades de cognição presentes em sua essência.

Nossas ações enquanto educadores e/ou psicopedagogos devem estar centradas na busca continua do prazer de aprender e, em nossa prática cotidiana, ressaltar a importância de tal procedimento como condição essencial para o resgate do sucesso no aprenderensinar, no ensinaraprender.

Enquanto profissionais atuando no campo psicopedagógico, somos estimulados a continuadamente a compreender os diferentes fatores que possibilitam o surgimento das dificuldades de aprendizagem, principalmente no que concerne ao âmbito escolar. A Psicopedagogia interessa-se, sobretudo, no diagnóstico e tratamento do sujeito que não consegue aprender, que não deseja, de alguma forma, aprender. Através da anamnese, um primeiro momento de encontro que o psicopedagogo tem com o sujeito aprendente e seus familiares, busca-se o olhar psicopedagógico e a escuta psicopedagógica, elementos facilitadores à percepção das possíveis causas do não aprender. Tal escuta e tal olhar podem ser obtidos com a utilização do lúdico, do jogo, com a observação das falas, dos silêncios, dos gestos e do corpo, enfim, das diferentes manifestações expressivas do sujeito, o que pode facilitar a busca da compreensão das possíveis causas para a não aprendizagem.

Neste movimento investigativo, cabe ao psicopedagogo buscar conhecer a história pessoal do sujeito aprendente, observar o seu papel no meio familiar onde convive, tentar conhecer aspectos diversos da vivência cotidiana que ele possui, suas relações com os outros nos diferentes espaços e tempos onde atua. É válido também abrir espaço para que tal sujeito manifeste sua oralidade, faça uso da fala para expressar suas angústias, seus medos, suas ansiedade, podendo, inclusive, o psicopedagogo utilizar elementos da arte-terapia como recursos para tal.

Ao elaborar o diagnóstico, caberá ao psicopedagogo levar em conta a vivência deste sujeito nos diferentes espaços onde ele atua, seja a própria escola e a família, e ainda a relação vincular que ele estabelece com seus pais, amigos e professores. Ao assim fazer, ver as possíveis interferências que estas relações possuem em seu aprender (ou no seu não-aprender).

Ao investigar o espaçotempo da escola deste sujeito aprendente, o psicopedagogo pode observar de modo crítico sua estruturação e organização, o método de trabalho mais usual, as relações existentes entre ensinantes e aprendentes e, sempre que possível, ter conhecimento do ideário que tal instituição possui presente no seu projeto político pedagógico, onde devem estar delineadas funções, habilidades e competências necessárias ao fazer de cada envolvido no cotidiano escolar.

Desta forma, poderá o psicopedagogo contribui para a superação das dificuldades de aprendizagem deste sujeito, intervindo, sugerindo e elaborando possíveis estratégias em conjunto com tais instituições a fim de facilitar a superação deste não aprender.

Relevância da Psicopedagogia na formação de professores: idéias para o debate.

Se o espaçotempo escolar hoje é repleto de desafios para o aprendente, também o é para o ensinante. Nós, educadores, estamos sempre em construção, visto que a cada dia, novos desafios surgem no cotidiano da escola e esta, por ser um espaço vivo e social, trás, em sua rotina, novas questões, novas formas de compreender as diferentes maneiras de se ensinar e aprender.

As modernas teorias pedagógicas e psicológicas nos apontam para a multidimensionalidade humana, para a pluridimensionalidade de nossas inteligências e de nossas formas de elaborarmos nossas interações com o mundo, com os outros e com o saber. Observamos, a cada novo dia, a necessidade de continuar a caminhar para ampliarmos nossas perspectivas enquanto humanos aprendentes e o quanto precisamos ainda aprender a lidar com as diferentes modalidades do aprender.

Cada um de nós possui um modo, um jeito próprio de interagir com o mundo e toda a sua complexidade. Evidentemente, a cada dia, somos todos novos e eternos aprendizes, aprendentes perenes, pois viver, é antes de qualquer coisa, aprender.

No espaçotempo da escola, necessitamos estar atentos as diferentes maneiras que utilizamos para propiciar a circulação do conhecimento, a circulação dos diferentes saberes presentes em nossa contemporaneidade. Ao estarmos efetivamente comprometidos com o nosso trabalho, devemos exercer a habilidade humana do cuidado para com nossos alunos e suas aprendizagens.

A Psicopedagogia na formação de professores - seja ela inicial ou continuada - é uma questão relevante pelo fato de este campo do conhecimento propor um outro olhar para a fantástica capacidade humana do aprender. Aprender é ato de emancipação humana, como venho reforçando em meus escritos, cursos e palestras: cada nova aprendizagem nos permite ir adiante, nos permite compreender melhor o mundo, a nós mesmos e aos outros. Cada nova aprendizagem motiva o sujeito aprendente a ir sempre mais além, adquirindo novos saberes, novos modos de ser e estar, na interação como mundo e com todas as suas fascinantes diferenças.

A cada um de nós que atuamos em educação cabe prestar cada vez mais atenção as diferentes transferências presentes no espaçotempo da escola, onde em processo de interação, diferentes sujeitos se conhecem e aprendem mutuamente. Paulo Freire sempre nos falava que educar é um ato de comunhão. E por ser ato de comunhão, todos podemos nos motivar a avançar no sentido do aprender sempre e cada vez melhor. Na formação inicial, continuada e permanente dos educadores, são necessários conhecimentos do campo psicopedagógico para que estes possam se habilitar no que concerne a identificação de possíveis dificuldades. Temas tais como cognição, desenvolvimento cognitivo, inteligência, aprendizagem, modalidades aprendizagem, autoria de pensamento, transtornos, distúrbios e dificuldades de aprendizagem, entre outros devem estar sempre presentes em cursos de formação e atualização.

Cabe ainda estar sempre em pauta em cursos de tal natureza os temas Cultura Escolar, Multidisciplinaridade, Transdisciplinaridade, Pedagogia de Projetos, Estudos Culturais, Metodologias Ativas de Ensino, Relações Interpessoais, Relações Humanas, Valores e Direitos Humanos, enfim temas presentes na agenda educativa contemporânea.

É de grande valia divulgar cada vez mais os teorias e estudos psicopedagógicos, pois a atuação preventiva da Psicopedagogia no espaçotempo da escola, da família e da empresa, pode ser uma alternativa para a identificação antecipada de sujeitos que podem ter algum tipo de dificuldade de aprendizagem. Nas instituições, formação de grupos de estudos, oficinas psicopedagógicas e cursos de curta-duração são válidos no intuito de esclarecer as possíveis origens das dificuldades escolares.

Formação de professores, práticas e saberes pedagógicos e Psicopedagogia:

De acordo com SCOZ (1996), nos cabe a tarefa de facilitarmos a aquisição de conhecimentos aos nossos aprendentes mediando os processos de ensinagem e levando “à aquisição de ideologias e conteúdos libertadores”. Neste sentido, a formação de professores deve privilegiar práticas e saberes pedagógicos onde o educador se perceba como importante mediador nos processos de aquisição de conhecimento. A ação pedagógica, neste sentido, deve ampliar suas perspectivas e modelos fazendo uso das diferentes contribuições que a Psicopedagogia nos trás.

A observação mais atenta, o olhar mais aberto, a compreensão da outridade, a sinergia, a empatia devem ser fios condutores de uma práxis que conduza o sujeito aprendente ao prazer de aprender, ao prazer de conhecer e de compartilhar aquilo que se sabe. Nos diferentes movimentos de interação humana nos modificamos através de relações dialógicas onde habilidades, vínculos, interesses e valores são compartilhados.

As práticas, os saberes pedagógicos e a Psicopedagogia devem estar sempre presentes na formação de professores por poderem gerar oportunidades importantes para se conhecer mais sobre como ocorre o desenvolvimento cognitivo de todos nós. Cabe refletirmos constantemente sobre este tema e ampliarmos nossas leituras e discussão para tal fim.

Bibliografia indicada:

ALARCÃO, Isabel. Formação Continuada como instrumento de profissionalização docente. In: VEIGA, Ilma Passos A. (org.). Caminhos da profissionalização do magistério. Campinas. Papirus, 1998

ALMEIDA, Maria Isabel de. Os professores diante das mudanças educacionais. In: BICUDO, M. V. e SILVA JR. C.A. Formação do Educador e avaliação educacional. Organização da escola e do trabalho pedagógico. São Paulo, Ed. UNESP, 1999, p.249-262.

ANDRADE, M.S. (org.) O prazer da autoria: a psicopedagogia e a construção do sujeito autor. Coleção Temas de Psicopedagogia, livro 3. Memnon, São Paulo, 2000.

ASSMANN, Hugo e SUNG, Jung Mo. Competência e sensibilidade solidária. Editora Vozes, Petrópolis, 2001.

BEAUCLAIR, João. Psicopedagogia, trabalhando competências, criando habilidades. Editora WAK, Rio de Janeiro, 2004.

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João Beauclair - Doutorando em Intervenção Psicossocioeducativa pela Universidade de Vigo,Campus de Ourense, Galícia Espanha. Palestrante e Conferencista Internacional. Autor de vários livros sobre Educação e Psicopedagogia.

Um comentário:

  1. O ensino é uma das coisas mais fantásticas, eu digo que é base do cidadão, e quando é executado com amor, então se torna melhor. Por isso não posso deixar de comentar, a vossa compartilho e o vosso desempenho no ensino.
    Quero apresentar-lhe o meu blog, O Peregrino E Servo.
    PS. Se desejar fazer parte dos meus amigos virtuais ficarei grato, decerto que irei retribuir.
    Que sua vida seja repleta de saúde e muitas e grandes vitórias.
    Sou António Batalha.

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