05 abril, 2009
Memorial de Leitura e Escrita
Recordo-me que meu processo de leitura começou antes de eu ingressar na escola, quando tinha por volta de quatro anos de idade. Meu pai era mecânico e minha mãe na época dona do lar. Todos os dias da acordava cedo, meu pai ia trabalhar e a minha cuidar das atividades do lar e eu sempre pegava papel dizendo que era para escrever. Aquele ambiente me envolvia e ali começava meu processo de leitura, a leitura do mundo, construída a partir das conversas das pessoas que ali estavam, contando histórias. Eu aprendia dentro desse contexto além das historinhas fantásticas, todo o processo desde a lavagem de prato até a preparação dos alimentos. Por isso concordo com Paulo Freire quando afirma que “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”.
Meu processo de leitura sempre foi movido por um sentimento de revolta, que me impulsionava a buscar uma mudança de vida.
Sempre fazia questionamentos muito pertinentes, como por exemplo: Por que naquele meu mundo apenas a minha mãe e o meu pai sabia ler e escrever? Por que meus pais eram alfabetizados? Meus pais me respondiam que quando eu tivesse maior saberia ler também. Isso me deixava atormentada.
Queria compreender como era a cidade, o que tinha nela entre outras coisas. Eles sempre respondiam meus questionamentos. Com esse hábito de conversar com meus pais fiquei impulsiva. Eu queria aprender a ler, para ensinar aos outros, já tinha incutido na minha mente o poder de transformação pela leitura.
Para minha felicidade meus pais resolveram me colocar na escola para que eu pudesse interagir com outras crianças. Eu passava a maior parte do dia lendo e mostrando para minha mãe que estava aprendendo a decodificar aquelas letras.
O primeiro livro que ganhei foi de Literatura infantil, o coelhinho sabido, o qual li vagarosamente no mesmo dia, à noite, para todos sentados ao chão. Meu pai, minha mãe diziam que era linda a forma como eu lia, parecia que cantava e isso foi muito importante para o desenvolvimento da minha consciência fonológica e contribuiu para a aquisição de uma leitura fluente.
Após a leitura do livro citado acima, meu pai sempre que podia, comprava livrinhos de Literatura para eu ler. Lembro-me que lia várias vezes o mesmo livro para meu pai que acabava decorando algumas estrofes.
A cada dia aumentava a minha convicção de que a leitura não era coisa apenas para ricos, que eu era capaz de me transformar e mudar a forma como vivia por meio da leitura e do conhecimento Eu lia impulsionada por uma motivação intrínseca, que era o desejo de mudança, viajava nas poucas leituras que fazia, construía imagens e me transportava para o mundo descrito nos livros, por isso concordo com Barthes que fala da leitura como desejo e não como dever, o leitor como sujeito no processo, sendo”. O leitor como uma personagem.”
Da 2ª a 4ª série estudei com a mesma professora, da qual não gostaria de revelar o nome. Esta foi uma fase bem marcante no meu processo de escrita, pois já estava alfabetizada. Começava então os castigos para fazer com que a minha escrita saísse perfeita. Comecei a escrever e tinha o apoio da professora . Ela conseguiu seu objetivo, minha caligrafia ficou legível, bonita, pois eu imitava a sua letra. Fico feliz, pois hoje sou formada em
Letras e lembrando sempre das minhas professoras.
Tínhamos acesso a livros na escola e a professora nos incentivava a leitura. Não gostava muito de leitura não. Mas, com o passar dos tempos, e a necessidade da leitura ia aumentando passei a gostar da leitura.
Lembro-me de uma colega da 4ª série que tinha uma coleção de livros de Literatura Infantil e ficava exibindo-os na sala de aula. Eu ficava com um enorme desejo de ler os livros. Ela dizia que se eu fizesse a tarefa dela, ela me emprestaria os livros, mas me enganava sempre. Terminou o ano letivo e eu não cheguei a ler todos os livros. Com isso criei uma vontade pela leitura de Literaturas Infantis, e só passei a ler mais e mais na 8ª série por necessidade devido às provas serem baseadas nas literaturas. Líamos muito A Droga da Obediência, a marca de uma Lágrima e muitos outros
Por precisar entender o processo da leitura e escrita e no âmbito educacional, fiz graduação em Letras e especialização em Psicopedagogia e continuo acreditando no poder de transformação por meio da educação. Como não acreditar se sou um exemplo disso!
Assim sendo, as condições para leitura e escrita na escola são bem claras. Servi como aumento de conhecimento e inteligência.
Narradores de Javé - Resenha do Filme
Ele foi gravado em 2001, em uma cidade bahiana de nome, Gameleira da Lapa. Conta a história de um povoado prestes a desaparecer em meio às águas. Com seu tom de documentário, o filme fascina por valorizar a história oral como fonte de uma narrativa bem conduzida por seus protagonistas: O próprio povo que se formou a partir daquela história que eles agora contam.
Seu objetivo é levar reflexão a respeito do que se pode ser considerado válido. A palavra escrita torna-se diferente quando citada. A verbalização transcende as regras ou limites gramaticais, culturais e sócio-econômicas; é proferida, e passada adiante. Daí se tira, de cada receptor, uma nova abordagem, uma nova estória (ou história) que, ainda, será repassada frente.
A maneira leve de apresentar um drama nos remete a uma realidade próxima, mas nem tanto, de marginalização social por causa da distancia educacional que envolve os habitantes da aldeia e o mundo fora dela.
O filme fala sobre a história do povoado de Javé, situado na Bahia, que será submerso pelas águas de uma represa. E a única chance da cidade não sucumbir, é se possuir um patrimônio histórico de valor científico . Os moradores de Javé se reúnem e apontam as histórias que o povo conta como o único patrimônio do povoado. Assim, decidem escrever um livro sobre as grandes histórias do Vale do Javé, logo chamado de livro da salvação, mas poucos da cidade sabem ler e escrever. O mais esclarecido é o carteiro Antônio Biá, que apesar das desavenças com os moradores locais se torna o responsável por reunir as histórias sobre a origem de Javé. Porém com o desenrolar da história a missão de Biá se mostra mais difícil do que parece,dentre outros motivos pelo fato dos cidadãos de Javé tentarem mudar o fato para beneficiar seus respectivos interesses,além da própria índole do protagonista,preguiçoso e irresponsável. No final da trama a tentativa de salvação da cidade se torna inútil e Javé desaparece destruída pelo progresso. Como lição, as pessoas que habitavam Javé, entendeu que para existir oficialmente, é necessário possuir provas escritas sobre o local pra onde partiram para formar uma nova “cidade”.
A trama nos faz refletir sobre a grande diferença que existe entre a linguagem oral e a linguagem escrita, sendo a linguagem a primeira facilmente manipulada pelos moradores da cidade, e isso conseqüentemente é passado para a segunda, que á a escrita, gerando a grande questão da obra.O filme também faz uma referência ao progresso, mostrando que este se faz indiferente a história das pessoas e dos lugares.
Seu objetivo é levar reflexão a respeito do que se pode ser considerado válido. A palavra escrita torna-se diferente quando citada. A verbalização transcende as regras ou limites gramaticais, culturais e sócio-econômicas; é proferida, e passada adiante. Daí se tira, de cada receptor, uma nova abordagem, uma nova estória (ou história) que, ainda, será repassada frente.
A maneira leve de apresentar um drama nos remete a uma realidade próxima, mas nem tanto, de marginalização social por causa da distancia educacional que envolve os habitantes da aldeia e o mundo fora dela.
O filme fala sobre a história do povoado de Javé, situado na Bahia, que será submerso pelas águas de uma represa. E a única chance da cidade não sucumbir, é se possuir um patrimônio histórico de valor científico . Os moradores de Javé se reúnem e apontam as histórias que o povo conta como o único patrimônio do povoado. Assim, decidem escrever um livro sobre as grandes histórias do Vale do Javé, logo chamado de livro da salvação, mas poucos da cidade sabem ler e escrever. O mais esclarecido é o carteiro Antônio Biá, que apesar das desavenças com os moradores locais se torna o responsável por reunir as histórias sobre a origem de Javé. Porém com o desenrolar da história a missão de Biá se mostra mais difícil do que parece,dentre outros motivos pelo fato dos cidadãos de Javé tentarem mudar o fato para beneficiar seus respectivos interesses,além da própria índole do protagonista,preguiçoso e irresponsável. No final da trama a tentativa de salvação da cidade se torna inútil e Javé desaparece destruída pelo progresso. Como lição, as pessoas que habitavam Javé, entendeu que para existir oficialmente, é necessário possuir provas escritas sobre o local pra onde partiram para formar uma nova “cidade”.
A trama nos faz refletir sobre a grande diferença que existe entre a linguagem oral e a linguagem escrita, sendo a linguagem a primeira facilmente manipulada pelos moradores da cidade, e isso conseqüentemente é passado para a segunda, que á a escrita, gerando a grande questão da obra.O filme também faz uma referência ao progresso, mostrando que este se faz indiferente a história das pessoas e dos lugares.
Análise do filme " Narradores de Javé "
O que significa fazer o “papel de escriba”?
Quando assistimos ao filme Narradores de Javé discutimos a questão do papel da escrita na sociedade. Os personagens se sentiam importantes em registrar sua história naquele livro, pois na verdade era sua identidade que ia ali, seus antepassados, sua história. Era um texto científico e esse gênero nos remete a algo de muito valor social, uma vez que a história só existe a partir da escrita, antes disso é só pré-história, como eu escrevi no relato sobre a visita à exposição Lusa - a matriz portuguesa. No entanto, o personagem de Antônio Biá foi excluído justamente por ser o único a dominar a escrita na cidade. Com isso podemos dizer que a escrita só assume seu real valor numa comunidade, quando ela possui uma função social.
Além de discutirmos o papel da escrita, também levantamos muitos intertextos presentes na história. Ela ressaltou que na administração, nos documentos da história da cidade, não há nada registrado a seu respeito.
Qual o papel do escriba naquela comunidade?
Conta a história de um povoado perdido no interior brasileiro, que se vê às voltas com a construção de uma usina hidrelétrica em sua região, o que levará à inundação de todo o vale de Javé, ameaçando a própria existência da comunidade. Em face desse perigo, os moradores do povoado resolvem em assembléia realizar um esforço “científico” de recuperação e escrita de suas “grandes histórias” do passado, na esperança de mostrar que o vilarejo era um patrimônio histórico a ser preservado e assim evitar seu desaparecimento.
Analise os traços de oralidade daquela comunidade.
Num vilarejo como Javé, que reflete a realidade de muitas pequenas cidades do sertão brasileiro, a oralidade não é simplesmente uma tradição, é também um traço conjuntural, devido à precária situação sócio-econômica dos moradores quase todos analfabetos. No filme, ao receber a notícia da inundação, os moradores ficaram desesperados, por não possuírem nenhum registro histórico que comprovasse o valor cultural do lugarejo. Por mais que eles conhecessem e soubessem revelar o tesouro de Javé à sua maneira, acabaram reféns da ausência de uma versão oficial documentada.
Identificar espaços em que os traços caracterizadores da sociedade como informacional – o registro, a documentação, os arquivos, os acervos, a tecnologia etc. – não são evidentes não significa dizer que não haja informação e conhecimento, mas sim que eles estão fixados em outra instância, volátil, que é a da oralidade, do boca a boca, o que deve ser especialmente analisado. Isso nos leva a uma necessidade instigante de busca pela qualificação daquilo que pode ganhar o estatuto de memorável, informativo, e logo, constitutivo de identidades sociais nesses grupos específicos.
Sociologia, Antropologia, Arqueologia, História: várias são as Ciências Humanas que se interessam pelas comunidades e pelos grupos sociais nos quais a oralidade é um aspecto marcante.
Analise o processo de construção da escrita do personagem que faz o papel de escriba.
Os moradores do povoado resolvem em assembléia realizar um esforço “científico” de recuperação e escrita de suas “grandes histórias” do passado, na esperança de mostrar que o vilarejo era um patrimônio histórico a ser preservado e assim evitar seu desaparecimento. Para isso, decidem convocar Antônio Biá (interpretado por José Dumont), antigo carteiro e único a dominar as letras no povoado, e que havia sido banido para os arredores do vilarejo por falsificar e enviar cartas maledicentes sobre os outros moradores, no intuito de manter a agência dos correios em atividade e preservar seu emprego. A maior parte do filme é ocupada pelas peripécias de Antônio Biá, coletando com os membros mais destacados da comunidade as tais “grandes histórias do povo javético” e se preparando para fixá-las pela escrita num caderno grande e imponente. A tarefa, no entanto, não chega a se concretizar, pois o escriba se perde em função das inúmeras discordâncias entre as narrativas que coletava com os moradores e das suas próprias tendências para a preguiça e o delírio criativo. Ao final da narrativa, as esperanças da comunidade se frustram e o vilarejo é inundado, mas seus antigos moradores seguem juntos para se estabelecerem em outro território. Triste diante imagem das casas que submergiam, Antônio Biá resolve retomar sua empreitada e começa, efetivamente, a registrar em seu caderno a história do povo de Javé, que segue em seu encalço, discutindo interminavelmente sobre qual “verdade” deveria ser fixada pela escrita.
Qual a relação entre oralidade e escrita?
Nas sociedades de tradição oral não há necessidade de memorização integral, palavra por palavra, mas o comportamento narrativo como papel mnemônico tem a função de atualizar o passado: “enquanto a reprodução mnemônica palavra por palavra está ligada à escrita, as sociedades sem escrita, excetuando certas práticas de memorização das quais a principal é o canto, atribuem à memória mais liberdade e mais possibilidades criativas”, diz Le Goff e que fica visível no filme: a principal concordância nas narrativas são os limites cantados da terra cultivada por cada família ou grupo.
A escrita, temida pelo povo de Javé, altera a relação com as palavras, fixa as idéias, rouba-lhe o movimento. A escrita é a anti-fala diz Lefevre (1991, p. 164-165), embora também afirme que a escrita jamais consegue suplantar completamente a tradição oral. “O importante é notar o caráter imperativo da escrita e do inscrito e sua duração. A escrita faz a lei. Muito mais ainda, ela é a lei. (...) ela obriga pela atitude imposta, pela fixação, pela recorrência implacável, pelo testemunho (transmissão e ensino) e pela historicidade assim estabelecida para a eternidade”.
A oralidade permite um refazer constante do passado a ponto de não separá-lo do presente.
Porém, vemos no final do filme uma reconciliação entre oral e escrito, momento em que Biá começa a escrever afoitamente no “livro da salvação”, talvez pela força do acontecimento que literalmente traga Javé. Penso que é um pouco o que diz Michel de Certeau (1988), ao analisar as relações entre oralidade e escrita.
Analise as práticas de letramento daquela comunidade.
Assim como as sociedades no mundo inteiro, tornam-se cada vez mais centradas na escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. E como ser alfabetizado, ou seja, saber ler e escrever, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas da sociedade atual, é preciso letrar-se, ou seja, tornar-se um indivíduo que não só saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive.
Como você percebe a relação entre ser alfabetizado e ser letrado no contexto do filme?
A escrita, para eles nasce com certa finalidade, como se fosse uma arma para o combate com opressor e para poder se falar a língua dele. O que significa não ler nem escrever numa sociedade como a nossa, letrada? É ficar ao Leo, a deriva?! O que leva o analfabeto ao primeiro impulso de letramento? Sua relação com seu opressor – mesmo quando o oprimido, iludido, culpa o mundo cão, hoje sabemos que as precárias condições de estudo têm sim culpados e elas não estão assim por causa da tragédia natural e inerente à vida. O primeiro motivo que o leva a se alfabetizar geralmente é sua busca por poder e sobrevivência, portanto, não é a partir de alguma reflexão sobre a escrita ou o conhecimento, nem é fazendo a comparação: isso ou aquilo, a partir do momento que as idéias se fixarem num papel, mudará.
Em que atividades práticas, no contexto da sala de aula, você exerce o papel de escriba.
A escrita das histórias pode ser feita pelo professor, como escriba. Neste caso, os alunos vão ditando e ele vai escrevendo, depois ele lê com eles, faz uma revisão em conjunto e passa a limpo na versão definitiva.
Se for parte do projeto do professor, a organização de um livro de mitos e lendas da turma, cada aluno pode ganhar uma cópia para ir organizando o seu. Pode também ser feito um livro coletivo grande, em folhas de papel pardo. O importante é que todos possam ter acesso ao texto, para tentar lê-lo, procurar palavras etc. Caso a turma já tenha alunos que saibam escrever, organiza-se em duplas e deixa-se cada uma escolher a história que gostaria de escrever. Mitos como Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Boitatá, Saci, Curupira e Caipora podem ser personagens de várias histórias
Qual a importância do escriba na construção da leitura e da escrita?
Nos tempos da pirâmide e dos Faraós, a escrita era privilégio de poucos, por isso a figura do escriba era fundamental na administração do antigo Egito: "Quando uma pessoa iletrada precisava redigir ou ler um documento, via-se obrigada a pagar o serviço de um escriba. Cerca de 12 anos eram necessários para que alguém estivesse em condições de ler e escrever os cerca de 700 hieróglifos que eram comumente usados no decorrer do Império Novo e os estudos podiam começar aos quatro anos de idade. Muitos exercícios escolares antigos sobreviveram em seu inteiro teor, com correções dos professores, e são geralmente cópias dos clássicos egípcios.
A máquina administrativa egípcia era formada basicamente por escribas. Eles se encarregavam de organizar e distribuir a produção; de controlar a ordem pública; de supervisionar todo e qualquer tipo de atividade. Obedeciam a autoridade dos faraós ou dos templos. Conhecer a escrita era a chave para toda a erudição daqueles tempos e os escribas se tornaram os depositários da cultura leiga e religiosa e acabaram dominando todas as atividades profissionais, a ponto de ocuparem até os cargos de oficiais do exército durante o Império Novo. Agrônomos, engenheiros, contadores ou sacerdotes, podiam acumular vários cargos e muitos o faziam.
A importância do escriba para a antiga sociedade egípcia era inquestionável, sem ele os historiadores e arqueólogos não teriam como decifrar alguns enigmas daquela época.
Quando assistimos ao filme Narradores de Javé discutimos a questão do papel da escrita na sociedade. Os personagens se sentiam importantes em registrar sua história naquele livro, pois na verdade era sua identidade que ia ali, seus antepassados, sua história. Era um texto científico e esse gênero nos remete a algo de muito valor social, uma vez que a história só existe a partir da escrita, antes disso é só pré-história, como eu escrevi no relato sobre a visita à exposição Lusa - a matriz portuguesa. No entanto, o personagem de Antônio Biá foi excluído justamente por ser o único a dominar a escrita na cidade. Com isso podemos dizer que a escrita só assume seu real valor numa comunidade, quando ela possui uma função social.
Além de discutirmos o papel da escrita, também levantamos muitos intertextos presentes na história. Ela ressaltou que na administração, nos documentos da história da cidade, não há nada registrado a seu respeito.
Qual o papel do escriba naquela comunidade?
Conta a história de um povoado perdido no interior brasileiro, que se vê às voltas com a construção de uma usina hidrelétrica em sua região, o que levará à inundação de todo o vale de Javé, ameaçando a própria existência da comunidade. Em face desse perigo, os moradores do povoado resolvem em assembléia realizar um esforço “científico” de recuperação e escrita de suas “grandes histórias” do passado, na esperança de mostrar que o vilarejo era um patrimônio histórico a ser preservado e assim evitar seu desaparecimento.
Analise os traços de oralidade daquela comunidade.
Num vilarejo como Javé, que reflete a realidade de muitas pequenas cidades do sertão brasileiro, a oralidade não é simplesmente uma tradição, é também um traço conjuntural, devido à precária situação sócio-econômica dos moradores quase todos analfabetos. No filme, ao receber a notícia da inundação, os moradores ficaram desesperados, por não possuírem nenhum registro histórico que comprovasse o valor cultural do lugarejo. Por mais que eles conhecessem e soubessem revelar o tesouro de Javé à sua maneira, acabaram reféns da ausência de uma versão oficial documentada.
Identificar espaços em que os traços caracterizadores da sociedade como informacional – o registro, a documentação, os arquivos, os acervos, a tecnologia etc. – não são evidentes não significa dizer que não haja informação e conhecimento, mas sim que eles estão fixados em outra instância, volátil, que é a da oralidade, do boca a boca, o que deve ser especialmente analisado. Isso nos leva a uma necessidade instigante de busca pela qualificação daquilo que pode ganhar o estatuto de memorável, informativo, e logo, constitutivo de identidades sociais nesses grupos específicos.
Sociologia, Antropologia, Arqueologia, História: várias são as Ciências Humanas que se interessam pelas comunidades e pelos grupos sociais nos quais a oralidade é um aspecto marcante.
Analise o processo de construção da escrita do personagem que faz o papel de escriba.
Os moradores do povoado resolvem em assembléia realizar um esforço “científico” de recuperação e escrita de suas “grandes histórias” do passado, na esperança de mostrar que o vilarejo era um patrimônio histórico a ser preservado e assim evitar seu desaparecimento. Para isso, decidem convocar Antônio Biá (interpretado por José Dumont), antigo carteiro e único a dominar as letras no povoado, e que havia sido banido para os arredores do vilarejo por falsificar e enviar cartas maledicentes sobre os outros moradores, no intuito de manter a agência dos correios em atividade e preservar seu emprego. A maior parte do filme é ocupada pelas peripécias de Antônio Biá, coletando com os membros mais destacados da comunidade as tais “grandes histórias do povo javético” e se preparando para fixá-las pela escrita num caderno grande e imponente. A tarefa, no entanto, não chega a se concretizar, pois o escriba se perde em função das inúmeras discordâncias entre as narrativas que coletava com os moradores e das suas próprias tendências para a preguiça e o delírio criativo. Ao final da narrativa, as esperanças da comunidade se frustram e o vilarejo é inundado, mas seus antigos moradores seguem juntos para se estabelecerem em outro território. Triste diante imagem das casas que submergiam, Antônio Biá resolve retomar sua empreitada e começa, efetivamente, a registrar em seu caderno a história do povo de Javé, que segue em seu encalço, discutindo interminavelmente sobre qual “verdade” deveria ser fixada pela escrita.
Qual a relação entre oralidade e escrita?
Nas sociedades de tradição oral não há necessidade de memorização integral, palavra por palavra, mas o comportamento narrativo como papel mnemônico tem a função de atualizar o passado: “enquanto a reprodução mnemônica palavra por palavra está ligada à escrita, as sociedades sem escrita, excetuando certas práticas de memorização das quais a principal é o canto, atribuem à memória mais liberdade e mais possibilidades criativas”, diz Le Goff e que fica visível no filme: a principal concordância nas narrativas são os limites cantados da terra cultivada por cada família ou grupo.
A escrita, temida pelo povo de Javé, altera a relação com as palavras, fixa as idéias, rouba-lhe o movimento. A escrita é a anti-fala diz Lefevre (1991, p. 164-165), embora também afirme que a escrita jamais consegue suplantar completamente a tradição oral. “O importante é notar o caráter imperativo da escrita e do inscrito e sua duração. A escrita faz a lei. Muito mais ainda, ela é a lei. (...) ela obriga pela atitude imposta, pela fixação, pela recorrência implacável, pelo testemunho (transmissão e ensino) e pela historicidade assim estabelecida para a eternidade”.
A oralidade permite um refazer constante do passado a ponto de não separá-lo do presente.
Porém, vemos no final do filme uma reconciliação entre oral e escrito, momento em que Biá começa a escrever afoitamente no “livro da salvação”, talvez pela força do acontecimento que literalmente traga Javé. Penso que é um pouco o que diz Michel de Certeau (1988), ao analisar as relações entre oralidade e escrita.
Analise as práticas de letramento daquela comunidade.
Assim como as sociedades no mundo inteiro, tornam-se cada vez mais centradas na escrita, e com o Brasil não poderia ser diferente. E como ser alfabetizado, ou seja, saber ler e escrever, é insuficiente para vivenciar plenamente a cultura escrita e responder às demandas da sociedade atual, é preciso letrar-se, ou seja, tornar-se um indivíduo que não só saiba ler e escrever, mas exercer as práticas sociais de leitura e escrita que circulam na sociedade em que vive.
Como você percebe a relação entre ser alfabetizado e ser letrado no contexto do filme?
A escrita, para eles nasce com certa finalidade, como se fosse uma arma para o combate com opressor e para poder se falar a língua dele. O que significa não ler nem escrever numa sociedade como a nossa, letrada? É ficar ao Leo, a deriva?! O que leva o analfabeto ao primeiro impulso de letramento? Sua relação com seu opressor – mesmo quando o oprimido, iludido, culpa o mundo cão, hoje sabemos que as precárias condições de estudo têm sim culpados e elas não estão assim por causa da tragédia natural e inerente à vida. O primeiro motivo que o leva a se alfabetizar geralmente é sua busca por poder e sobrevivência, portanto, não é a partir de alguma reflexão sobre a escrita ou o conhecimento, nem é fazendo a comparação: isso ou aquilo, a partir do momento que as idéias se fixarem num papel, mudará.
Em que atividades práticas, no contexto da sala de aula, você exerce o papel de escriba.
A escrita das histórias pode ser feita pelo professor, como escriba. Neste caso, os alunos vão ditando e ele vai escrevendo, depois ele lê com eles, faz uma revisão em conjunto e passa a limpo na versão definitiva.
Se for parte do projeto do professor, a organização de um livro de mitos e lendas da turma, cada aluno pode ganhar uma cópia para ir organizando o seu. Pode também ser feito um livro coletivo grande, em folhas de papel pardo. O importante é que todos possam ter acesso ao texto, para tentar lê-lo, procurar palavras etc. Caso a turma já tenha alunos que saibam escrever, organiza-se em duplas e deixa-se cada uma escolher a história que gostaria de escrever. Mitos como Lobisomem, Mula-sem-cabeça, Boitatá, Saci, Curupira e Caipora podem ser personagens de várias histórias
Qual a importância do escriba na construção da leitura e da escrita?
Nos tempos da pirâmide e dos Faraós, a escrita era privilégio de poucos, por isso a figura do escriba era fundamental na administração do antigo Egito: "Quando uma pessoa iletrada precisava redigir ou ler um documento, via-se obrigada a pagar o serviço de um escriba. Cerca de 12 anos eram necessários para que alguém estivesse em condições de ler e escrever os cerca de 700 hieróglifos que eram comumente usados no decorrer do Império Novo e os estudos podiam começar aos quatro anos de idade. Muitos exercícios escolares antigos sobreviveram em seu inteiro teor, com correções dos professores, e são geralmente cópias dos clássicos egípcios.
A máquina administrativa egípcia era formada basicamente por escribas. Eles se encarregavam de organizar e distribuir a produção; de controlar a ordem pública; de supervisionar todo e qualquer tipo de atividade. Obedeciam a autoridade dos faraós ou dos templos. Conhecer a escrita era a chave para toda a erudição daqueles tempos e os escribas se tornaram os depositários da cultura leiga e religiosa e acabaram dominando todas as atividades profissionais, a ponto de ocuparem até os cargos de oficiais do exército durante o Império Novo. Agrônomos, engenheiros, contadores ou sacerdotes, podiam acumular vários cargos e muitos o faziam.
A importância do escriba para a antiga sociedade egípcia era inquestionável, sem ele os historiadores e arqueólogos não teriam como decifrar alguns enigmas daquela época.
Pro dia nascer feliz - Registro reflexivo
Por mais que sabemos o que passam em nossas escolas percebemos que é o natural de nossas escolas e que me frustra é ver o professor desmerecendo os trabalhos de seus alunos. E o sistema educacional precisar sofre alterações, mas o professor precisa se reciclar e amar mais a vida e parar de ser egocêntrico e deixar essa crise só porque aprendeu em moldes narrativos nossos alunos não devem ser "docilizados". O ensino dever ser partilhado para ensinarmos e aprendermos. Por mais que sabemos o que passam em nossas escolas percebemos que é o natural de nossas escolas e que me frustra é ver o professor desmerecendo os trabalhos de seus alunos. É o sistema educacional precisar sofre alterações,
O filme fala por si... É a realidade da educação brasileira, dos jovens, sejam ricos ou pobres, é um pedido de socorro, que nós educadores, políticos e a sociedade temos a obrigação de fazer algo. O problema é que muita gente pensa que vive alheia a tudo isso. Retrata de forma bem clara a realidade do ensino em nosso país. Professores desmotivados e alunos desinteressados. Ele nos leva repensar o processo do ensino-aprendizagem. Será que devemos nos comportar como os alunos? Fingir que ensinamos, assim como eles fingem que aprendem? Seria muito bom que todos diretores e coordenadores de escolas, pais e alunos pudessem assistir a este filme.
O filme fala por si... É a realidade da educação brasileira, dos jovens, sejam ricos ou pobres, é um pedido de socorro, que nós educadores, políticos e a sociedade temos a obrigação de fazer algo. O problema é que muita gente pensa que vive alheia a tudo isso. Retrata de forma bem clara a realidade do ensino em nosso país. Professores desmotivados e alunos desinteressados. Ele nos leva repensar o processo do ensino-aprendizagem. Será que devemos nos comportar como os alunos? Fingir que ensinamos, assim como eles fingem que aprendem? Seria muito bom que todos diretores e coordenadores de escolas, pais e alunos pudessem assistir a este filme.
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